TCU decide hoje sobre acordos de leniência
O plenário do Tribunal de Contas da
União vai decidir hoje (15) se os acordos poderão prosseguir com a sistemática
atual na Controladoria Geral da União (CGU). É a terceira vez seguida que o
processo entra na pauta de apreciação da Corte. O ministro Augusto Nardes é o
relator.
O processo a ser analisado pela Corte
é resultado da representação do Ministério Público junto ao TCU, que quer
impedir acordos de leniência entre a Controladoria-Geral da União e as empresas
da Lava Jato sem serem celebrados anteriormente com o Ministério Público
Federal.
A análise da matéria estava prevista para a semana
retrasada, mas o relator preferiu esperar a manifestação do Ministério Público
Federal, que ainda não tinha acontecido. No documento, o órgão argumentou que a
CGU dispõe de menos informações sobre as irregularidades identificadas e que
poderia beneficiar as empresas ao firmar acordos de leniência de forma
unilateral.
Na semana passada, novamente, o assunto
foi colocado na pauta da Corte. No entanto, o relatório foi retirado da pauta
minutos antes de iniciar a plenária. A justificativa foram as instruções
normativas e portarias da CGU publicadas pela manhã no Diário Oficial da União.
O ministro não teria tido tempo de verificar se os textos poderiam ou não
causar impacto sobre a decisão.
O jornal Valor Econômico publicou que
o documento da unidade técnica que irá embasar o voto do ministro-relator faz
apenas recomendações à CGU, mas não coloca impedimentos aos acordos.
Para o procurador do Ministério
Público junto ao TCU, Júlio Marcelo Oliveira, autor da matéria, o perigo na
demora da apreciação é evidente. A preocupação do procurador se baseia no fato
da CGU já estar negociando acordos de leniência e conversando sobre os tratos
com as empresas investigadas pelo Ministério Público Federal. “Isso já está
prejudicando as investigações. O perigo é gritante”, afirma.
Oliveira defende que os acordos de
leniência são um instrumento da investigação e não de recuperação de empresas.
Para ele, só faz sentido exercer e utilizar o mecanismo dos acordos se for para
a investigação.
Na opinião do procurador, o ministro
Augusto Nardes, relator do processo no TCU, já poderia ter decidido a
participação da CGU e do MP no processo de instauração dos acordos leniência
mesmo sem a investigação.
Pressão Social
A análise do processo mobilizou a
sociedade, que lotou as caixas de e-mail dos ministros do TCU. O pedido era
para que os acordos não sejam celebrados pela CGU sem o aval do Ministério
Público. A convocação foi realizada por meio das redes sociais. Ao informar que
a ação seria julgada, o movimento Vem Pra Rua fez um apelo: “Não deixe para
amanhã, pois a pizza terá saído do forno”.
Para Júlio Marcelo, é legitimo que a
população se aproprie da discussão. “O tema não pode ser debatido em gabinetes,
a portas fechadas. É uma discussão que a sociedade tem o direito de participar
porque afeta diretamente os rumos do país”, afirma.
Sobre o fato dos acordos levarem as
investigações a acabar em pizza, o procurador ressaltou que, se os tratos
acontecerem da maneira atual, a lei deixará de ser anticorrupção e se tonará
uma lei de recuperação de empresas.
Entenda melhor
A representação do procurador Júlio
Marcelo de Oliveira foi protocolada depois de manifestação de entidades da
sociedade civil que se mostraram apreensivas em relação aos acordos. Além da
Associação Contas Abertas, faziam parte das preocupações as Associação da
Auditoria de Controle Externo do Tribunal de Contas da União, a Associação
Nacional dos Auditores de Controle Externo dos Tribunais de Contas do Brasil
(ANTC) e a Associação Nacional do Ministério Público de Contas (AMPCON).
Para as entidades, com os tratos, as
empresas podem escapar de acusações na Justiça por crime de cartel, cobranças
judiciais da multa de até 20% do faturamento bruto do empreendimento e
proibições – também na esfera judicial – de novos financiamentos com dinheiro
público.
Em fevereiro, o secretário-geral do
Contas Abertas, Gil Castello Branco, já alertava sobre os eventuais acordos de
leniência se transformarem em “acordos de conveniência política”. Em março,
Castello Branco, chamou a atenção para a barganha de acordos de leniência na
CGU. “A boa vontade do governo contribuirá para que as empresas e os seus
dirigentes segurem a onda e a língua junto ao MPF e ao juiz Sérgio Moro. A pizza
está no forno”, escreveu em artigo publicado no jornal O Globo.
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