O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into),
órgão do Ministério da Saúde sediado no Rio de Janeiro (RJ), expandiu
para todo o Brasil a captação de ossos e tendões de seu Banco de
Tecidos. Uma equipe médica começou a testar com êxito o piloto desse
tipo de procedimento em maio, no município de Arapongas, interior do
Paraná. Neste mês de julho, já estruturada, a captação em outros estados
tornou-se rotina no Into.
Na prática, o Instituto amplia sua
atuação no país e deixa de depender apenas das doações realizadas no
estado. “Ao capacitar nossas equipes para ir a qualquer ponto do país
fazer as captações, demos um passo crucial para contornar eventual
escassez de doadores. Atendemos à necessidade do SUS como um todo em
cirurgias ortopédicas que necessitem de um transplante, não só as que
ocorrem dentro do Into. Disponibilizamos aqui material para transplantes
para quaisquer hospitais que o realizem”, ressalta o diretor do Into,
João Matheus Guimarães. Único hospital brasileiro e um dos 19 do mundo que integram a
International Society of Orthopaedic Centers (ISOC), que congrega os
melhores hospitais de ortopedia existentes, o Into já capta, processa e
disponibiliza tecidos humanos (nos quais estão incluídos ossos e
córneas) há 16 anos. Uma única doação, sempre realizada sob autorização
dos familiares de pacientes com morte cerebral, beneficia em média de 30
a 40 pessoas à espera dos mais variados tipos de transplantes
ortopédicos pelo SUS.
Até agora, todas as captações de tecidos
ósseos e tendões do Into tinham como origem doadores do estado do Rio de
Janeiro. É essa limitação que o Into rompeu. Pacientes como a estudante
universitária Mariana Flores, 20 anos, são os beneficiados desse tipo
de ação. Ela precisou de transplante de fêmur aos 13 anos e novamente
aos 15, depois de ser diagnosticada com tumor maligno. Nas duas
cirurgias, utilizou material do Banco de Tecidos do Into.
“Hoje o
meu dia a dia é normal, as cirurgias que fiz não me impedem de fazer
nada. Faço academia e musculação, todas as minhas atividades, como
qualquer outra pessoa”, conta ela, que decidiu cursar Medicina depois de
passar três anos internada ou se recuperando de cirurgias no Instituto
Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) e no Into. Hoje, é
estudante da UERJ.
TABU – De 2010 a 2013, as doações vinham em crescimento. Em 2014, se
estabilizaram. Neste ano, não há tendência de aumento. Segundo o chefe
do Banco de Tecidos do Into, Rafael Prinz, este tipo específico de
doação enfrenta ainda hoje um tabu. Em pesquisas prévias realizadas no
próprio Into, sua equipe constatou que há receio da população de que os
corpos dos doadores não sejam entregues íntegros às famílias. Isso
porque as equipes médicas retiram ossos e tendões dos braços e pernas.
“Lidamos
com o desconhecimento, com uma visão que, em relação aos transplantes
de órgãos em geral, já foi até superada. A verdade é que na captação do
que chamamos tecidos musculoesqueléticos (ossos e tendões), nas regiões
onde ocorre o procedimento, é realizada a reconstrução com material
sintético. Os corpos são sempre entregues íntegros”, esclarece Prinz.
O
Into mantém equipes preparadas para realizar captações 24 horas por
dia, 365 dias do ano. Todo o procedimento, desde a captação,
processamento, armazenamento e distribuição do transplante é gratuito
para o receptor.
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